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De Fanzines à AUs, como as Fanfics surgiram?

Atualizado: 12 de jul. de 2022


Fanart do livro Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo (Foto: @JUPD.ART)


Antes mesmo da escrita se estabelecer como uma forma de registro, as histórias já transmitiam a cultura de um povo e sua época de geração em geração. Cada vez mais, fomos ganhando domínio sobre essa arte, seja para a propagação de informações factuais, relatos do passado, ou apenas pelo simples prazer de criar. É entre esse desejo de tornar uma ideia algo tangível e compartilhável que as fanfics se popularizam.


Chamadas de Fanfictions, hoje já abreviadas apenas para fics, essas são histórias escritas por fãs e para fãs. Sem pretensão alguma de construir algo grandioso e eterno como os sonetos de Camões, elas são histórias ficcionais que usam de livros, filmes, séries e até mesmo pessoas reais para desenvolver um mundo novo e cheio de possibilidades, que às vezes se tornam maiores do que o esperado.


Com o seu início ainda na década de 1960, as primeiras fanfics as quais temos registros foram contos quinzenais publicados em formato físico na revista Spoknalia, e lembravam muito as célebres histórias em quadrinhos que circulavam na época. Como já deve imaginar, a revistinha continha fanfictions baseadas nas aventuras de Spock e Kirk a bordo da insubstituível nave de exploração Entreprise, “indo onde ninguém jamais foi”.


Por ser uma forma de escrita ainda inédita, a Spoknalia liderou o surgimento de uma tendência, que na época ainda recebia o nome de fanzines, junção das palavras “fã” e “magazines” (revistas em inglês). Nela eram explorados contos produzidos inteiramente pelos fiéis súditos da saga Star Trek, que imaginavam outras inúmeras possibilidades para além do explorado na série e materializavam suas ideias.


Fanzine Spoknalia de 1960 (Foto: Reprodução)

Com o tempo, a ficção imaginada, produzida e veiculada por fãs ganhava cada vez mais espaço em meio aos seus fandoms. Mas a real explosão ficou a cargo da saga de ficção científica Arquivo-X, já em meados dos anos 1990. A história dos agentes do FBI que investigam situações um tanto inexplicáveis caiu na graça dos fãs, que viram as milhões de diferentes trajetórias que os detetives Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson), protagonistas da série, poderiam viver. Assim, a ideia de que o céu é o limite acabou ganhando um toque de verdade.


Entretanto, o que realmente impulsionou as ficções de fãs a ganharem outros patamares foi a internet. Com o seu surgimento a passos calmos no fim do século passado, e rápida aceleração e popularização em meados dos anos 2000, as fanfics se tornaram objetos de compartilhamento, sendo divulgadas, lidas e escritas em blogs, fóruns e quaisquer outros lugares em que pudessem se encaixar. A partir de então, a fórmula do sucesso estava pronta.

As fanfics depois do “.com”


A revolução digital, como muitos gostam de se referir ao desenvolvimento e popularização da internet e suas tecnologias, ajudou as pessoas a se aprimorarem em inúmeros aspectos. Exemplo básico disso é a facilidade que temos de simplesmente “dar um Google” quando queremos saber algo. Sem mais a necessidade de se gastar horas e horas em busca de informações, o grande trunfo desse novo modo de se comunicar é o compartilhamento.


As mídias sociais, como Facebook e Instagram, estão aí para nos provar que vivemos em sua sociedade mediada pelas redes. Assim, a literatura não estaria de fora. E para além dos e-books, bibliotecas virtuais e livros digitais, as fanfics merecem um destaque especial quando falamos em compartilhar histórias.


Assim, o que torna essa forma de se fazer literatura tão poderosa é que, hoje, ela se apoia nas mídias sociais, seja para ser veiculada, divulgada ou compartilhada. Sem mais se prender em amarras editoriais que tornam as publicações de livros um tanto burocráticas, as fanfics abrem caminho para que os leitores se tornem produtores de conteúdos, dando a eles poder na ponta do lápis - ou melhor, na ponta dos dedos.


É desse desejo de criar e compartilhar narrativas que inúmeras plataformas exclusivamente voltadas para as fanfics surgem na internet. Os lugares onde se pode ler e publicar tais ficções de fã são inúmeros, como o Fanfiction.Net, site que vem desde de o início dos anos 2000 e ainda está de pé compartilhando essas histórias. Outros meios mais novos, mas tão importantes quanto, são o Spirit Fanfics e o Wattpad, sendo o último um dos mais populares dentre os leitores, contando hoje com mais de 80 milhões de usuários que compartilham seu amor pela literatura de fã.


Plataforma de leitura de fanfics Wattpad (Foto: Reprodução)

Contudo, com a expansão quase desenfreada, a comunidade decidiu se livrar de quaisquer barreiras de espaço e plataformas, usando das redes sociais que já tanto conhecemos para disseminar sua escrita. Desse modo, surgem as AU (Alternative Universe).


Ainda que as AUs já existissem muito antes das fanfics tomarem conta do Twitter - especialmente -, essa denominação mudou um pouco sua cara. Antigamente, Alternative Universe era o nome dado a histórias que misturavam diferentes universos, ou seja, imagine criar uma narrativa em que o famoso personagem Harry Potter se tornou um Vingador da Marvel. Por serem de universos totalmente diferentes, a união deles é denominada AU.


Porém, hoje em dia se você disser a um leitor de fanfic que encontrou uma AU ótima, não é bem isso que ele irá entender. Os Alternative Universes ganharam um novo significado e agora, popularmente, indicam histórias narradas por meio de prints de redes sociais, mensagens de texto das personagens e também narrações, comumente veiculadas por meio do Twitter.


Desse modo, as fanfics, e AUs, se tornam ainda mais compartilháveis. Assim, para além da experiência de leitura, temos também a experiência de comunidade que se forma com força em torno das histórias.


E se você acha que a literatura e fã é uma coisa de nicho e que nunca teve contato com ela, preciso te dizer que não é assim que funciona. Esse universo de fanfics se expandiu tanto nas últimas décadas que as grandes editoras do mercado literário viram ali uma oportunidade de outro para achar novos escritores e histórias envolventes.


Talvez você não saiba que 50 Tons de Cinza, de E.L. James, um dia já foi um fanfic de Crepúsculo, ou que a série Os Instrumentos Mortais, de Cassandra Clare, era uma ficção de Harry Potter. E quer ver seus conceitos sobre literatura de fã virarem de cabeça para baixo? A famosíssima e adorada obra Romeu e Julieta, de William Shakespeare, é na verdade inspirada no poema The Tragic History of Romeo and Juliet, de Arthur Brooke, 1562, o que a categoriza como uma fanfic. Os exemplos são vários, basta olhar mais atentamente para sua própria estante e os verá!


 
 
 

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© 2022 por Ana Laura Ferreira

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